"Uma câmera não faz o fotógrafo"

A paixão de Sara Berenguer pela fotografia surgiu à 12 anos, e desde ai, apesar de sua jovem idade tem vindo a destacar-se trabalho após trabalho, e foi assim que surgiu o Photo Place, a sua página onde partilha parte dos seus projetos fotográficos.

Ontem é só Memória: Numa época em que o conceito de "fotografia perfeita", está na moda, e que existe uma enorme facilidade em se ter acesso a fotografias, achas que os fotógrafos profissionais estão a ser substituídos, por pessoas comuns com câmaras fotográficas?
Sara Berenguer: Sinceramente acho que não e para mim não é, nem deve ser uma possibilidade. Uma câmera não faz o fotógrafo, por muito boa que seja a câmera que tens nas mãos, se não souberes trabalhar com ela, se não tiveres visão daquilo que pretendes e especialmente paixão, não vais substituir um fotógrafo profissional.

 Existe sempre um enorme debate sobre a fotografia perfeita, e numa época em que todas as imagens parecem "vender uma imagem de perfeição", com a qual todos os dias nos debatemos, nem sempre é fácil distinguir uma fotografia perfeita de uma fotografia bem tirada.

Ontem é só Memória: O que é para ti a fotografia perfeita?
Sara Berenguer: Sei que é uma boa fotografia quando o objetivo final é comprido, passar a mensagem, fazer as pessoas pensar e sentir através daquela fotografia ou projeto.

Ontem é só Memória: Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, se tivesses que escolher uma fotografia da tua autoria para representar esta frase, qual escolherias e porquê?
Sara Berenguer: Talvez esta. 

Todas as sessões que fiz com o meu bisavô têm um significado especial. Esta foi a primeira vez que o fotografei, foi em 2018, e só estávamos a tirar fotografias por brincadeira.
Esta fotografia vale mais que mil palravas, sentes a essência, a paz e a alegria que é o meu bisavô, acho que não preciso de dizer muito. Lá está basta olhar para a fotografia.

Ontem é só Memória: Trabalhas com vários(as) influencers, alguns contratam os serviços de fotógrafos profissionais, outros acabam por ser modelos e fotógrafos ao mesmo tempo, por isso, tenho que perguntar o que pensas do crescimento desta "profissão", e do impacto que ela tem nos fotógrafos?  
Sara Berenguer: Pessoalmente não gosto muito do termo “influencer” acho que tomou uma conotação mais superficial, mas indo de encontro à tua pergunta, acho algo muito desafiante. Ao contrário do que as pessoas pensam, as pessoas que realmente influenciam (e não falo só em influenciar em comprar um produto) têm muito trabalho e eu posso confirmar especialmente no que toca às fotografias.
Eu já fiz autorretrato e não é nada fácil andar com tripé de um lado para o outro, mais configurações, posições da máquina, as tuas poses, etc etc.
Existem pessoas que elevaram esta questão dos autorretratos/selfies a um outro nível e há que os parabenizar por isso, são trabalhos incríveis.
Para mim um “influencer” não se trata apenas de postar fotografias só porque sim e dizer-te para consumires ou comprares o tal produto. Trata-se de teres uma voz para defenderes aquilo que acreditas, consciencializar, às vezes educar e abrir mentes.

"Esta é uma história fotográfica diferente, cheia de amor e de carinho que tenho pelo meu bisavô Joaquim (...)".
É assim que Sara descreve o seu projeto "Envelhecer não é um fardo", projeto esse que em 2020, durante a pandemia, foi destacado e muito falado nas redes sociais e no telejornal, aqui ela reforça o quanto é importante passarmos tempo com o mais velhos, nos divertirmos com eles e acima de tudo valorizarmos a sua presença nas nossas vidas.

Ontem é só Memória: Alguma vez pensaste no impacto que o teu projeto teria? E já agora, o que é que esse destaque e reconhecimento trouxe para ti?
Sara Berenguer: É engraçado porque este projeto começou por ser algo pessoal em família e uma homenagem ao meu bisavô, uma maneira também de ele se entreter e não se sentir sozinho.
À medida que fui fazendo o projeto decidi enviar este projeto a concurso dos Novos Talentos FNAC 2020, achei que era importante passar esta homenagem e mensagem de que os mais velhos não devem ser um fardo para nós nem eles se devem sentir assim.
Como na altura o combinado com o bisavô Cenoura seria mostrar as fotografias na televisão e isso não foi possível devido à pandemia. Senti que estava a falhar com a minha palavra e fiz um álbum fotográfico com as fotografias que fizemos e ainda o texto sobre o projeto. Optei por documentar tudo isto num pequeno vídeo que acabei por partilhar porque as pessoas que me acompanham, já tinham visto as fotografias e estavam a adorar os resultados e conhecer mais sobre o Cenoura.
Não tinha a mínima noção do impacto que iria ter, a minha plataforma não é enorme, mas o apoio e incentivo das pessoas valeu por muito mais.

Ontem é só Memória: E já agora, de certeza que o teu bisavô ficou muito orgulhoso, mas a verdade é que ele também se tornou "famoso" graças ao projeto, o que é que ele disse de tudo isso?
Sara Berenguer: Sendo há um ano atrás o meu bisavô tinha 92 anos, apesar de estar lúcido ele levou algum tempo para perceber o impacto e toda a situação.
Ainda hoje não sei se ele tem essa noção. Mas claro que ficou sem palavras, mas muito feliz.

 E porque quando se fala de fotografia, as pessoas tem quase sempre a ideia de que esta profissão cheia de glamour e coisas fantásticas, mas vários videos já nos vieram mostrar, que antes de a fotografia chegar até nós, tanto o fotógrafo como o modelo tiveram que passar por alguma situação complicada.

Ontem é só Memória: Qual é a história mais engraçada e com menos glamour que tens para me contar sobre a preparação de uma sessão fotográfica?
Sara Berenguer: Existem várias realmente, cada sessão, uma peripécia.
Tinha uma sessão preparada que teria lugar em Ovar, junto à praia e a previsão do tempo estava para muito sol e definimos a sessão em função do tempo claro.
Quando estava a caminho no comboio recebi uma fotografia que a modelo me tinha enviado praticamente branca. O tempo mudou de repente e ficou nevoeiro e orvalho.
A sessão seguiu e acabamos por alterar o mood que tínhamos preparado.
Mais no final tentamos fotografar junto à água mas com cuidado porque até o mar ficou bravo nesse dia. De repente, vem uma onda que por muito longe que eu ou a modelo estivéssemos, não valeu a pena e levamos com ela.
Mas parar? Nunca! Aproveitamos o momento engraçado, ela continuou a pousar e eu a fotografar, com água que subiu até aos joelhos

Ontem é só Memória: E para finalizar, quais são os teus projetos para o futuro?
Sara Berenguer: Continuar. Continuar a criar, inspirar e ser inspirada por outros.
A cada dia que passa tenho mais certezas de que é disto que quero fazer vida.

Já conhecias a Sara e o Photo Place? Gostaste desta entrevista?

 

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