Crónica | O caráter social da mulher
Quando eu digo que não quero ser mãe, começa toda uma romaria e ritual vindo de pratricamente todas as pessoas que teimam em me considerar maluca por essa escolha. Já nem me dou ao trabalho de considerar isso um insulto, mas não gosto que coloquem a minha escolha em causa. Acho que aqui se aplica a máxima "se não pagam as minhas contas, não tem nada que opinar sobre a minha vida".
Vamos lá ver uma coisa friamente, não questionei as mulheres que foram mães nem os motivos pelo qual engravidaram, então porque é que me dizem "um dia podes mudar de ideias?". Aliás, quantas delas já mudaram de ideias e se arrependeram? E não me venham com coisas e coisinhas, toda a gente sabe que essas pessoas existem.
Mas... E porque existe sempre um mas, se um homem disser que não quer filhos parece que está tudo bem, e está tudo no lugar! Graças a Deus que o facto de ter um pénis e não querer ter filhos não faz dele menos homem, quando que por outro lado, ter uma vagina e não querer ter filhos, aparentemente faz do espécime feminino, menos mulher.
Quando um homem não quer ser pai, poucas ou nenhumas exclamações são proferidas, e quase nenhum desses homens teve um atestado de maluco passado pelas pessoas que pensam que ele pode mudar de ideias. Aliás, ninguém lhe diz que pode mudar de ideias, porque aparentemente os homens quando tomam decisões é para valer, já as mulheres aparentemente estáveis de sentimentos, emoções e decisões podem ser tão voláteis como o hidrogénio e o metano. Quando a decisão de não ter filhos vem de um homem, na mais louca das hipóteses ouve-se a frase "Um dia vais encontrar uma mulher que te faça mudar de ideias?". Sim, claro, tem que ser a mulher a fazê-lo mudar de ideias, porque ele está tão seguro das suas ideias, que não as vai mudar sem que uma mulher esteja 24 horas sob 24 horas a falar-lhe do assunto.
Mais uma vez percebo que a mulher fica limitada por ser mulher. Existem aqueles papeis que uma mulher tem que fazer. Não deve fumar porque fica mal. Não deve falar alto nem dar gargalhadas, deve cuidar da casa e parir. As regras são estas. E apesar de os anos passarem a verdade é que aquilo que se espera da mulher não mudou assim tanto, apenas se adaptou ao século XXI.
Se estou a ser drástica? Talvez, mas é em pequenas coisas que se vê o quanto ainda existem expectativas para as mulheres diferentes das dos homens, e vendo bem, pouca coisa mudou.
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